por Iberê Lopes
Fundador da Brazilian Blues Band, o repórter fotográfico
Richard Silva conta sua caminhada virtuosa, de descoberta musical até a paixão
pelas lentes no registro da política brasileira.
Filho mais novo de uma família de oito irmãos, brasiliense,
apaixonado pelos traços que o céu da cidade e as curvas arquitetônicas podem
revelar. Antes de reconhecer na fotografia um caminho profissional, Richard
Silva (repórter fotográfico), 44, aprendeu cedo o hábito de ouvir música
brasileira, rock and roll e blues. A influência vinha dos irmãos, de acordo com
ele “era uma coleção vasta de vinis, que iam de Luiz Melodia ao clássico Deep
Purple que marcaram muito”.
Assim, descobriu a guitarra e suas possibilidades melódicas.
A primeira paixão da vida se revelava nos estudos sobre a trajetória da
irreverente banda inglesa Rolling Stones, exercendo forte impulso para tornar
os solos parte de um caminho que agora era seu também. “Fiquei fascinado por
saber que o nome da banda se baseava em uma canção do bluesman norteamericano
Muddy Waters”. Para Richard Silva aí estava a trilha que deveria ser a dele dali
por diante.
“Eu prestei atenção sempre pelo que me deixava encantado,
era o som da guitarra”. Com este gás e determinação foi estudar outros grandes
mestres do blues como Buddy Guy, Steve Ray Vaughan, B.B. King, entre tantos
ícones do gênero.
Neste período de mergulho no universo da música conheceu
Luiz Kaffa (guitarrista e vocalista), ainda em início de carreira. “Com ele aprendi
a ouvir a Ângela RoRo, Blues
Etílicos e muitos músicos que faziam uma blueseira
fantástica”, destaca Silva. Não demorou muito para o novo amigo ser convidado a
montar um projeto voltado aos acordes da musicalidade afroamericana e encarar
os palcos do Distrito Federal.
"A ideia surgiu com meu amigo e compadre
Richard, guitarrista hoje dedicado à música de louvor. Queríamos fazer algo
parecido com o som do Celso Blues Boy, que foi uma grande influência,e de quem,
no final da vida, toquei junto e me tornei amigo", lembrou Luiz Kaffa.
Em 1995, a Brazilian
realizava show no Espaço Cultural da 508 Sul,
com Richard Silva na guitarra,
Kaffa (vocal) e o gaitista, flautista Pedro Polaco. (Arquivo)
Aí estava o embrião da histórica Brazilian Blues Band, que
primeiramente teria o nome de Marginal Blues, inspirada no homônimo disco de
Celso Blues Boy. Fundada em 18 de abril de 1994, a banda definiu que seguiria
os passos de um som voltado aos timbres e compassos do blues sem perder o que
era para Richard o swing “essencialmente brasileiro”. Desta forma surgia no
cenário brasiliense a Brazilian Blues Band, batizada por Richard Silva. Hoje
com 20 anos de estrada e sem a presença de Silva.
DO BLUES NASCE O REPÓRTER FOTOGRÁFICO
“A Brazilian Blues Band é uma grande influência na minha
outra formação”. A relação de amizade com os integrantes não se desfez. Ao
contrário, apontou o novo caminho profissional do ex-guitarrista. Quando se
afastou da parte musical, Richard Silva assumiu, à pedido dos demais músicos, a
tarefa de fotografar as apresentações.
Os fundadores Richard Silva
e Luiz Kaffa, no Mané Garrincha em 1995. (Arquivo)
Já como profissional das
lentes, esteve presente nos momentos importantes da banda. Aprendendo seu novo
ofício ao som do velho e bom blues. Certamente, os acordes impactantes das
canções o inspiraram. Agora, observava o rio da margem, procurando as luzes
centrais e marginais que iluminavam a Brazilian. Sua fonte de construção musical
e de percepção imagética. “Eu adorava estar com os caras na estrada, naquela
mesma sensação que as canções proporcionam”.
A formação acadêmica fluiu
para a criatividade, inerente aos fotógrafos e músicos. Silva procurou na
Publicidade a expressão para a arte pulsante em sua travessia, a mudança
desejada e a união entre as duas verves que alimentavam sua alma. É possível
que a sensibilidade desse artista reinventado seja traduzida no olhar atento
que apresenta em cada clique, como se dedilhasse uma nova melodia.
Homenagem ao Dia do
Índio no Plenário da Câmara dos Deputados (2015) Foto: Richard Silva
Com essa nova fase veio,
também, a estabilidade financeira, possibilitando a compra de instrumentos
novos. Realizando assim, mesmo que por diversão apenas, a continuação do sonho
musical nunca abandonado. Foram escolhas complicadas, mas que com o tempo se
completaram no “melhor momento da vida”, segundo Richard Silva.
Manuela D’Ávila, Líder do PCdoB na Câmara dos Deputados
(2013). Foto: Richard Silva
CPMI da Violência
Contra a Mulher, Senado Federal. Foto: Alexandra Martins Costa
Ato da Lei
Cultura Viva na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados.
Foto: Douglas Gomes
Na capital do
Brasil não existe o rio Mississippi, nem a atmosfera própria da cultura negra
norteamericana. Mas, o Lago Paranoá inspira muitas trajetórias de vida que
merecem ser contadas em todos os tempos. Atrás das câmeras, nos bastidores de
Brasília, encontramos um personagem raro que com extrema sensibilidade segue
sua lida por tornar o mundo um lugar mais interessante de se viver.
O blueseiro
fotógrafo Richard Silva conseguiu aliar a poesia das canções com a luta no
Congresso Nacional. “Eu sinto que, meu trabalho de hoje, é como uma missão. Um
compromisso de levar para o público, da melhor maneira possível, as tantas histórias
da política nacional. Faço por vocação, sonho. É a minha contribuição para extinguir
o lamento, tão presente no blues, do povo brasileiro por dias mais justos”.
Entre os próximos passos da banda, já está em curso a gravação de novas canções para o
terceiro CD e a produção de um DVD com uma compilação
dos trabalhos anteriores. A atual formação da Brazilian Blues Band conta com Leonardo Vilela (guitarra), Célio de Moraes (baixo), Rafael
Paez (bateria) Marçal Leones (teclados) e Luiz Kaffa nos vocais.